La Paz, 15 de abril de 2022.
Olá.
Das muitas vidas que vivi, a do escritor Isaac Bàbel é uma das mais fantásticas. Nasceu, escreveu, amou, casou, teve filhas, guerreou, viajou, voltou, escreveu ainda mais e foi assassinado. Odessa é sua cidade natal e Bénya Krik um de seus personagens.
Gosto de sua escrita.
Envolto em parágrafos e frases, bons cafés, queijos e vinhos, um bj, boa leitura e bom fim de semana.
TEXTOS DE ESPANTO - A TRAIÇÃO DE ODESSA
Na Av. Roosevelt, em Porto Alegre, uma cidade ao sul do mundo, havia um açougue. Nos fundos do açougue havia um galinheiro. E no galinheiro havia Odessa, a galinha.
Todas as galinhas que por ali nasciam tinham destino certo: mortas, nuas, arrepiadas e penduradas de pernas para cima dentro do balcão gelado, menos Odessa.
Odessa era diferente. Bábel, o açougueiro, havia lhe dado o nome em homenagem à sua cidade natal – cidade, ele dizia, onde viveu seu ídolo Bénya Krik, o Rei, e de onde as pessoas partem quando podem. Ninguém sabia quem tinha sido Bénya Krik, nem onde ficava Odessa.
Certa tarde, a gritaria dos passantes quebrou a rotina da vizinhança e denunciou o segredo dos privilégios de Odessa, a galinha nunca sacrificada: ela havia alçado vôo, conforme o destino de seu nome.
Do chão do galinheiro, em vôo raso por sobre a cerca, primeiro pousara no telhado da casa que abrigava o açougue e agora, com equilíbrio incerto e olhar assustado, repousava nos fios da companhia de energia elétrica. Dalí, diante de uma platéia de braços erguidos e dedos apontados, um novo e pequeno vôo a levou ao teto do ônibus que passava, provocando um coral de exclamações.
O açougueiro ainda arrancava seus cabelos, recebia olhares curiosos e chorava sua dor quando o Linha 4, o velho Navegantes, apontou em seu trajeto de retorno trazendo de volta, exibida como quem pensa ser a filha preferida, a galinha Odessa.
A alegria dos que assistiam à cena deu lugar ao espanto quando o dono do açougue, abraçando a galinha que sabia voar, cortou-lhe o pescoço.
O bairro, naquele dia, começou a saber como era Bénya Krik, o ídolo do açougueiro Bábel.
Vitor Bertini
TAKE A PEEK
Foi o acaso de cadeiras vizinhas em uma palestra sobre pintores belgas quem aproximou os colegas do curso de pintura. A identidade no espanto com o surrealismo e o entusiasmo com os mistérios das pinturas de Magritte, mais o surpreendente fato de o aluno mais jovem dispor de um ateliê, foram determinantes para a visita de estudos e conversas agendadas para o dia seguinte.
Não me abandone, a saga de Bénya Krik, um cão de rua, contada pela família que ele adotou, Vitor Bertini, Editora Esquina do Lombas.
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