Ano Novo – 2024
#180 Amado sempre será quem se encanta com meu passar; na vida que fiz, sorte, amanhã, norte.
Sing Sing, 05 de janeiro de 2024.
Um dia, tonto de tanto remar só, pedi ajuda a quem tinha me apresentado As cartas de John Keats:
– Tenho uma dúvida com relação à edição do meu livro baseado nestas Histórias da sexta: devo incluir algum dos meus textos que precedem – estes papos – as histórias propriamente ditas, ou não?
– Olha, Bertini, eu sempre leio o teu trabalho como um todo. Não consigo ver as histórias separadamente. Acho que sim.
Satisfeito, incluí vários papos, em vários capítulos.
Depois, pensando com calma, concluí que não só os textos de cada sexta, mas todas as histórias são, realmente, capítulos de uma coisa só.
Hoje, pensando na coisa, e mesmo sabendo que os números e os vírus são outros, lembrei da transição de 2020 para 2021 – ainda sinto tudo igual. E estou de férias.
2020, EU PRECISO ESCREVER (2023)
Hoje eu preciso escrever; e na escrita que choro, o abraço que não posso, as mãos que não alcanço.
Hoje eu preciso escrever; e no canto do pássaro que canta só, triste, me afastar por amor.
Hoje eu preciso escrever; longe te ver, sentir, saudade de gente que amo sem conhecer.
Hoje eu preciso escrever; na mão que abana, no olhar que busca, na lágrima que brota, nas crianças, a esperança.
Hoje eu preciso escrever; rezar perdão pelo que não sei, pelo que fiz e pelo que não pude fazer.
Hoje eu preciso escrever; pelos beijos que, tenho certeza, ainda darei – em ti, meu amor, e em todos vocês.
HOJE, O TEMPO
Amado sempre será quem percebe meu passar; o agora que já vai, o amanhã que virá.
Amado sempre será quem acolhe meu passar; ontem, lembrança, amanhã, esperança.
Amado sempre será quem se encanta com meu passar; na vida que fiz, sorte, amanhã, norte.
2021, EU PRECISO CANTAR (2024)
Hoje eu preciso cantar; e no canto do meu dizer, o abraço, o riso aberto, as mãos que vou poder.
Hoje eu preciso cantar; e no verso do pássaro que saúda a manhã, alegre, despertar meu amor.
Hoje eu preciso cantar; perto te ver, sentir, tocar, juntos, sorrir e chorar.
Hoje eu preciso cantar; no gesto que afirma, no olhar que diz vem, na vida que nasce, sempre, a esperança.
Hoje eu preciso cantar; rezar gratidão pelo que não entendo, pelo que não sei, e pela certeza do que virá.
Hoje eu preciso cantar; por todos beijos que darei em vocês e nos seus, amores meus, neste singelo Feliz 2021(4).
Vitor Bertini
“Quem sabe eu compartilho?”
Resoluções de Ano Novo (minhas):
Ler todos os dias;
Pegar um pouco de sol todos os dias;
Fazer algum tipo de exercício físico todos os dias;
Evitar comidas e bebidas suspeitas;
Evitar discussões inúteis, e, se for possível,
Tratar o carcereiro com humanidade.
Férias na companhia do Ulysses é uma perspectiva de férias intermináveis. Nas palavras do próprio James Joyce:
I’ve put in so many enigmas and puzzles that it will keep the professors busy for centuries arguing over what I meant, and that’s the only way of insuring one’s immortality.
A saber:
Eu coloquei neste livro tantos enigmas e quebra-cabeças que os professores ficarão ocupados por séculos discutindo sobre o que eu quis dizer, e essa é a única maneira de alguém garantir a imortalidade.
As possibilidades de Joyce, de alguma maneira, estavam ligas às possibilidades da uma senhora chamada Harriet Weaver, sua mecenas.
Dona Irany (ver texto da semana passada), quem diria, chama-se Irany Harriet. Moral da história: uma Harriet eu já tenho, sinto falta é da mecenas – e estou de férias.
Resoluções de Ano Novo (suas):
Ler todos os dias;
Sorrir e apertar o botão abaixo:
– Férias ou fuga?
– Todos a nado!