Uma estrada para a Lua
#132 Amigo de seus amigos, caseiro, arrumou namorada bem longe de casa.
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UMA ESTRADA PARA A LUA
Foi só depois do acidente que Gilberto começou, todas as noites, mãos estendidas, a procurar a Lua no céu.
Amigo de seus amigos, caseiro, arrumou namorada bem longe de casa. No dia de seu noivado, roupa nova na mala, olhar no horizonte, uma curva e o acidente. Sete meses entre a vida e a morte.
A família da noiva foi ao hospital, viu, chorou, e nunca mais voltou. A família do noivo foi e ficou, rezando. Gilberto viveu.
Voltou para casa e engordou. Calçava chinelos, vestia bermudas, caminhava na calçada, cumprimentava os passantes e conhecia os passarinhos. Assim, passava os dias.
Às vezes, quando alguém parava para ouvir, contava que estivera sete meses em um hotel branco e repetia, atrapalhado, a lista dos remédios que precisava tomar. No fim, piscando um olho e sorrindo, recitava o nome das enfermeiras.
Às noites, perguntado sobre a Lua, dizia que queria ir para lá, só para namorar. E concluía, enxugando uma lágrima:
– A estrada para a Lua não tem curvas.
Ontem, me informaram a partida do Beto. Foi noivar na Lua.
Vitor Bertini
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Este texto é uma ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou situações reais é só uma coincidência triste;
A edição do livro dessas histórias segue seu curso: o financiamento coletivo terá prazo final estabelecido nas próximas horas (todos serão avisados) e o acerto de contas com as vírgulas segue fazendo suas vítimas.
ALGUNS PASSOS
Gostei da ilustração das botas.
Sempre que vejo botas assim, lembro de literatura russa.
Tem a história de um soldado brasileiro na Itália que, durante sua ronda, ouviu passos de botas alemãs vindo em sua perseguição. Correndo de costas, fuzilou todos os arbustos que encontrou no caminho de volta.
Quando é dia de Ano Novo, Maria se maquia, sobe nos saltos, dança para o espelho e sai para beijar.
Vejam a generosidade da turma que, caminhando de braços dados e sorrisos serenos, oferece esses passos loucos para o coletivo dos não assinantes. Vejam só, e vejam como é.
Chega por hoje.
– Vitor Bertini
Just in case: alguém por aqui usa o tal de Linkedin?