Um quase anúncio de uma longa história
#188 O autor confessa seus pecados.
O dia que vem vindo, 1º de março de 2024.
Se eu pudesse ter o imenso prazer de tomar um chope com o poeta Vinícius de Moraes, ele que escreveu O Dia da Criação, em 1946, louvando o sábado, eu perguntaria, entre goles e salaminhos:
– Poeta, me conte, depois de todos estes anos de experiência, aqui e no além, o que você escreveria sobre a sexta-feira?
UM QUASE ANÚNCIO DE UMA LONGA HISTÓRIA
Profeflor é um livro físico de histórias curtas, agora reeditadas, um dia escritas e originalmente distribuídas às sextas-feiras através de canais perecíveis, para leitores e amigos do autor; mais uma história inédita, um pouco mais longa, estranhamente silenciosa até agora.
O livro é composto de 48 textos sem estilo nomeado, com temáticas que fogem da realidade como o diabo da cruz. A edição que agora é quase anunciada – a Edição do Autor – mantém a formatação e a referência às sextas-feiras em alguns textos e paga este preço. O autor confessa seus pecados.
A classificação literária do livro é um desafio sobre o qual esta breve nota, em silêncio obsequioso e absoluta indiferença, prefere calar.
Em breve, à moda chinesa, gloriosos detalhes.
ESTE TEXTO NÃO É UMA HISTÓRIA DA SEXTA
Por força de um prólogo terminei indo ler Stendhal, O vermelho e o negro.
Um dia, séculos atrás, once upon a time, viajando a trabalho, exausto, decidi tirar uma semana de férias em Paris. Mais precisamente, Saint-Germain-des-Prés. Uma maravilha.
No meu primeiro café da manhã, cheguei no salão faltando dez minutos para o fim do serviço e só restavam arrumadas as mesas maiores. Cuidando de tudo, sozinha, uma senhora de cabelos espetados e descoloridos com cara e gestos de poucos amigos. Não entendi todo o seu discurso, apenas o suficiente para evitar as mesas arrumadas e começar a responder no modelito je ne parle pas du tout français, je suis… E antes que eu completasse com o brésilien, ela respondeu, agora com um surpreendente e largo sorriso: és brasileiro. Devolvi o sorriso: és portuguesa.
Mudou a língua, mudou o entendimento, mudou o humor: sentei em uma mesa grande e recebi, depois de fechado o salão, uma porção extra de queijos. Todas as manhãs.
Je ne parle pas du tout français: estou lendo O vermelho e o negro, do Marie-Henri Beyle, o Stendhal, em português. Uma maravilha. Só imagino os queijos perdidos.
Clicar e coçar, é só começar.
Bom fim de semana.