Brasil, 18 de julho de 2025
Um dia, voltando de férias e de olhos abertos, escrevi o texto Troncos broncos. Gostei.
Na apresentação dos Troncos, logo depois da data, em forma de diálogo, tomei uma precaução:
Eu: Ficaram os troncos broncos.
Alguém: Brancos.
Eu: Broncos! No sentido de não desbastado, não trabalhado; áspero, rugoso, tosco. Não me diga as palavras.
Ontem, atônito, vendo o inacreditável desfile do mal nesta terra de palmeiras e sabiás, escrevi a palavra desgraçados.
Alguém: Deslaçados.
Eu: Desgraçados! No sentido de quem faz o mal de uma forma não banal; o mal por escolha; consciente e orgulhoso. Não me diga as palavras.
TRONCOS BRONCOS
Viajei. Fiquei longe de casa por seis semanas. Voltei: o vizinho da frente mutilou seis árvores.
Transformou minhas janelas pintadas com o céu colorido das estações em um deserto azul de ventos e nuvens irreconhecíveis. Podou tudo.
Tudo ele pode. O terreno é dele; as árvores são dele, os galhos e as folhas eram dele. Só a vista e os sonhos eram meus.
As folhas mudavam de cor denunciando a passagem do tempo e embalavam meus textos: as do alto anunciavam chuvas, as do meio dançavam ao sabor dos ventos e as de baixo se deixavam tocar. Em dias de sol ofereciam sombra e murmuravam segredos.
Dignas e belas no alto, caídas emprestavam cores e alma aos aplainados caminhos de pedra (da razão rasteira), e sentimentos ao meu cantar.
Foram-se as folhas. Ficaram os troncos broncos de braços desproporcionais, incapazes de um abraço. Incapazes de um verso.
Viajei, estava fora, não vi o gesto. Perdi a vista — os sonhos ainda são meus.
Vitor Bertini
Chega por hoje. Mesmo.