Vitor Bertini

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Trinta de Agosto
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Trinta de Agosto

#99 As pessoas hoje em dia tem mais interesse em assuntos do diabo do que de informações sobre o céu.

Vitor Bertini
Jun 17
10
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Açougue do Butka, 17 de junho de 2022.

Olá.

A junção do ofício de escrever com o de mercadejar os escritos é, como quase tudo na vida, boa e ruim.

Vamos à boa: quem estiver em Porto Alegre na próxima quita-feira, dia 23, e quiser fazer algo diferente, pode dar um “pulo” na Livraria Santos, Galeria Casa Prado, Praça Maurício Cardoso, às 19:00 – será uma satisfação recebê-los. Na pauta, autógrafos no Não me abandone e papo sobre o livro que vou editar baseado nessas histórias das sextas.

Entre convites, textos passados e livros futuros, boa leitura e bom fim de semana.

TRINTA DE AGOSTO

Padre Pedro era o pároco da Igreja de São Benedito.

Em uma manhã de segunda-feira, numa roda de senhoras, padre Pedro se queixava da baixa presença de fiéis na missa dominical quando foi interrompido por um homem acompanhado de um cão.

– As pessoas hoje em dia tem mais interesse em assuntos do diabo do que de informações sobre o céu – disse o desconhecido, enquanto o cão, orelhas altas, sentava na calçada.
– Qual o seu nome, meu filho?
– Nasci em vinte e nove de agosto, seu padre.
– Posso saber o que você faz?
– Bebo, seu padre.
– E por que você bebe, filho de Deus?
– Porque se eu afirmar que não bebo e disser tudo o que digo, vão me tomar por louco.
– Entendi… E esse atento cão, é seu?
– Eu ando com ele e ele anda comigo, seu padre, mas não sou o dono dele não.
– Será que ele tem dono?
– É por isso que digo que bebo. Afinal, quem é dono de quem neste mundão de Deus?
– E nome, ele tem um nome?
– Começamos a andar juntos em trinta de agosto, um dia depois de meu aniversário.
– Entendo… Foi você que ensinou ele a sentar assim?
– Normalmente, quando senta, ele é que me ensina!
– Bem… – disse padre Pedro, encaminhando o fim da conversa. – Espero você na Igreja de São Benedito no domingo!
– Padre, tempo virá em que a colheita será igual à semeadura – falou o homem, arregalando os olhos.

Depois de breve silêncio o cão ergueu-se nas quatro patas e os dois, mão e rabo abanando, voltaram a caminhar na direção de onde vieram.

Na manhã seguinte as beatas do padre Pedro faziam compras no bairro e, sem a presença do padre, falavam e falavam. Foi assim que Georgy Butka, o açougueiro, soube da existência de um profeta andarilho que atendia pelo nome de Vinte e Nove de Agosto e andava com um cão. Foi assim também que Bénya Krik, o Rei, soube que precisava encontrar Trinta de Agosto, o atento e sábio cão que sentava ao ouvir verdades.

– Não me abandone, Vitor Bertini, Esquina do Lombas

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TAKE A PEEK

A maior parte destes poeminhas
não tem qualquer pretensão.
Uma meia dúzia
tem alguma pretensão.
Dois ou três
são extremamente pretensiosos.

– Essa cara não me é estranha, Millôr Fernandes, Boa Companhia

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