Sonhando acordado
#208 A certeza que escrevo para negar o que nega a vida, para louvar o espanto e para acolher o duro ofício de construir – e seguir sonhando acordado.
Terras de Benvirá, 12 de julho de 2024.
SONHANDO ACORDADO
No pesadelo, acordado, não reconheço quem já bebeu comigo. Ofegante, não vejo seu rosto e recuso, temeroso, a mão que avança e seus dedos que apontam.
No silêncio que constrange, o pavor da língua que retorce argumentos; o mormaço de um olhar baixo.
No pesadelo, acordado, estranho o abraço que um dia eu pude; o calor, o acalanto, o cheiro que um dia senti. A vida.
No sono que não chega, o olhar opaco de uma criança imóvel. As mães.
No sono que não consigo, hoje, a certeza. A certeza que escrevo para negar o que nega a vida, para louvar o espanto e para acolher o duro ofício de construir – e seguir sonhando acordado.
Vitor Bertini
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*Aldir Blanc
Para quem estava apressado, distraído ou é do tempo em que se podia andar à toa na vida, aqui vai a novidade da semana passada:
Para os que se despedem por aqui, desejo um bom fim de semana.
Na plataforma, sozinha, abanando em direção ao trem que partiu, ficou uma pergunta: que livro você está lendo?
A ilustração de hoje é o quadro The sick child , do norueguês Edvard Munch.