Estácio, 19 de setembro de 2025
SACUDIU O MEDO
Na vida normal, Nestor gostava de música. Gostava de samba, era amigo do Antonico e, na escola, não tinha tempo ruim: tocava cuíca, surdo e tamborim.
A vida passa, o tempo voa, a Sapucaí é longa e nem tudo continua numa boa — mas no recuo da bateria, na paradinha, no respiro do samba, Nestor sorria, não tinha boca pra se queixar.
Recolhia frases feitas, velhos comerciais; tirava o pó, juntava tudo – cuidava do ritmo e pela janela via a banda passar.
Quando a água subiu, a bunda molhou. Quieto, sozinho, Nestor chorou. Quem viu, fez que não viu e calou. Só o Popular, que não viu, falou.
No ritmo que cresce, no diz que diz do fuxico, os ouvidos do Antonico. Nascido em Jurujuba, distrito de Niterói, cidade do Rio, sua alma morava no Estácio, e sabia que na escola do Nestor ninguém faz o que ele faz.
Sem favor, resoluto, coisa antiga, não do porvir, Antonico decidiu agir. Sacudiu o medo, começou a falar, olhou pelo rapaz, e o povo, na avenida girando estandarte na mão, voltou a cantar.
Vitor Bertini
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ONDE SE CONTA A ORIGEM DA RELAÇÃO ENTRE ANTONICO E NESTOR
(à moda Cervantes).
ANTONICO
Oh Antonico, vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mimAté muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo muito bem, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer— Ismael Silva
Dizem — contam, reza a lenda — que o Nestor da música era o próprio Ismael. Não é fácil.
Na história de hoje, o Nestor é quem você quiser. Também não está fácil ser Antonico.