San Petesburgo, 2 de junho de 2023.
RESENHAS INSÓLITAS
Lolita, Vladimir Nabokov, qualquer edição. Não perca.
Sem o peso de teses sobre meus ombros e com a certeza das vírgulas bêbadas: Humbert Humbert é um estrangeiro nos USA, anarquista e tarado; Lolita – uma ninfeta – é sua paixão. Esta é a história. Ponto.
Um ponto que não deve interessar a quase ninguém é o fato da classificação bibliográfica do livro ser “romance norte-americano”. Acho interessante: Nabokov, russo, escreveu Lolita em inglês e, apesar de declarar que esse talvez fosse seu caso de amor com a língua inglesa, lamentou com a força de uma “tragédia pessoal” o abandono de seu idioma materno e as possibilidades e nuances que este lhe ofereceria.
Quanto ao livro propriamente dito, aqui vão breves e despretensiosas orientações de uso:
leia o prefácio assinado por um tal de John Ray duas vezes. É bom e vai ajudar;
leia com atenção e cuide com as expectativas criadas no primeiro terço da história;
vista as roupas de Humbert Humbert ou qualquer dos seus nomes e siga os próximos dois terços. Nabokov sabe das suas expectativas e escreveu sobre isso;
quando você chegar nos capítulos 35 e 36 sua vida não será mais a mesma.
Leia o livro novamente.
Comprei minha edição – ah… o tempo – no Sebo Itaim, Rua Clodomiro Amazonas, 112, em São Paulo, ao valor de 2F. Cada F valia R$ 5,00.
Reproduzo um trecho do posfácio “Sobre um livro intitulado Lolita” escrito pelo autor e que merece, sozinho, outros 2F.
Reproduzo e, depois, saio correndo.
“Não escrevo nem leio obras de ficção com fins didáticos, e, a despeito da afirmação de John Ray, Lolita não traz nenhuma moral a reboque. Para mim, um romance só existe na medida em que me proporciona o que chamarei de volúpia estética, isto é, um estado de espírito ligado, não sei como nem onde, a outros estados de espírito em que a arte constitui a norma.”
PS: Vladimir Nabokov e sua esposa eram caçadores de borboletas. Grande parte do livro foi escrito à noite ou em dias nublados, pouco adequados à caça.
Vitor Bertini
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