Ontem, quinta-feira, triste e cansado de marré, marré, marré, decidi reeditar um velho texto apoemado, Os caminhos de José.
Depois, sentei para ver o Brasil jogar.
OS CAMINHOS DE JOSÉ
José conhecia seus caminhos - pisos, personagens, pedras e paisagens.
Um dia, bem cedo, manhãzinha mesmo, com as chaves no bolso e as sandálias de sempre, José viu - ninguém contou –, encostadas na parede nua, duas palavras vadias. Viu, calou e seguiu.
Na volta, à tardinha, não tardou a parede a aparecer. Mais palavras. Sem fumar, sem beber, sem transporte coletivo, sem creme de barbear, e já quase sem ver, José foi para casa. Foi pensar.
E se eu gritasse, gemesse, dormisse ou morresse?
Noutro dia, mais cedo, chaves ainda na mão, se corresse não ia adiantar, a parede não ia andar, sem cavalo preto para galopar, o passo apressou, o coração apertou, a coragem fugiu e a cabeça mentiu. José desviou.
Na volta, enganou o medo e caminhou devagar.
Parou na parede e as palavras só faziam aumentar. Leu, e não precisou pensar. Deu dois passos atrás, leu de novo e começou a chorar.
Agora, José já sabia: no meio do caminho tinha um verso, tinha um verso no meio do caminho.
Vitor Bertini
Ontem, quinta-feira, depois do jogo, sem o José, saí para caminhar.
No meio do caminho encontrei meninos, encontrei meninos e esperança no Brasil no meio do caminho.
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