Olhadinhas
#197 Aquelas estranhas histórias que, brincava citando Hamlet, "sendo estranhas, devemos dar-lhes as boas-vindas”.
Rio Grande do Sul*, 3 de maio de 2024.
Com a vênia de todos, volto antes da próxima sexta-feira.
Bom fim de semana.
OLHADINHAS
Dr. Wilhelm era catedrático de filosofia do direito, usava ternos de corte inglês, lia Kelsen em alemão, gostava de palestrar e, sempre que possível, falava de estranhamentos. Tudo isto já foi dito.
Também já foi dito que ele socorria-se de seu motorista, o Paulão, sempre que precisava ilustrar com alguma “história de espanto” suas conversas sociais. Aquelas estranhas histórias que, brincava citando Hamlet, "sendo estranhas, devemos dar-lhes as boas-vindas”.
O que ainda não foi contado, muito menos em favor deste escriba, é a história do contraparente do professor que, em meio a cálices de vinho do porto e charutos, houve por bem alcançar-lhe um parecer encomendado a terceiros, indagando se o catedrático poderia, em alguma hora oportuna, “dar uma olhadinha”:
– Meu filho, em Direito eu não dou olhadinhas.
É verdade que a resposta foi ouvida entre baforadas e risos. Mas, é o que foi dito.
Vitor Bertini
*Chove no Rio Grande.
A verdade, minha filha, é que eu não sei como parar este poema:
nos dias de chuva sobem do fundo do mar os navios fantasmas,
sobem ruas, casas, cidades inteiras,
e procissões, manifestações, os primeiros
e os últimos encontros, o padre-cura e o boticário
discutindo política na esquina…– Chuva, Mário Quintana