O diabo vende Prada

#171 Visitando Florença – terra de Dante, Boccaccio e Maquiavel –, na esquina das Vias Vecchietti com Strozzi, encontrei o diabo.

Sul do Equador, 3 de novembro de 2023.

O DIABO VENDE PRADA

Visitando Florença – terra de Dante, Boccaccio e Maquiavel –, na esquina das Vias Vecchietti com Strozzi, encontrei o diabo. 

Ele está lá. Está lá a estatueta feita pelo artista flamengo, Jean Boulogne – o Giovanni da Bologna –, trazido à Florença para a reforma do palácio que dá nome à primeira das vias, em 1578. Nunca foram embora: nem o escultor, que está enterrado na mesma Firenze, na Basilica della Santissima Annunziata; nem o diabo, dependurado na esquina a me olhar com suas pernas abertas.

Tergiverso. O fato é que você não chega à Florença, partindo de qualquer lugar ao sul do Equador, sem passar por algum dos aeroportos internacionais de Roma ou Milão.

Em uma destas inevitáveis escalas, caminhando nas lajotas decoradas do piso da Galleria Vittorio Emanuele, distante trinta minutos de trem do aeroporto de Linate, em Milão, um blazer na vitrine da loja Prada chamou minha atenção.

Sob o olhar atento de um vendedor ousei abrir a porta do reino daqueles vidros curvos, pedi para ver o casaco e, em silêncio, fui conduzido à frente de um espelho. 

Enquanto segurava o casaco para eu vestir, sorrindo, ele perguntou sobre as circunstâncias em que eu pensava usar a compra:
– Occasion? – arriscou.

Quando respondi que não sabia, que eu era só um pobre escritor brasileiro e que na verdade pouco necessitava de blazers, ele pediu licença.

Voltou em cinco minutos, ajustou o caimento e colocou uma caneta tinteiro Montblanc Writers Edition 1812 no bolso interno da peça que eu experimentava. Depois, pediu para eu recuar dois passos e me ver por inteiro:
– How do you feel? Ready for the autographs?

Na despedida, junto com um aperto de mãos, me contou que a Prada promovia concursos literários e que a edição de 2017 tinha tido como tema a frase Inner Landscape.

Comprei o casaco sonhando com a noite de autógrafos. O diabo continua em Florença; a vaidade, seu pecado preferido, eu encontrei em Milão.

Vitor Bertini

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É verdade que ontem foi feriado?

A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
– Brás Cubas

Fui.