Vitor Bertini
A história da sexta
Hai-Kais
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Hai-Kais

#67 A sabedoria, pobrezinha / no fundo da sala / cala.
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Olá.

Sexta
Diferente
Comece lendo, de trás para a frente.

Entre cerejeiras, pares de hashi, pequenos goles e um bj, boa leitura e bom fim de semana.


TEMPOS I

A sabedoria, pobrezinha
No fundo da sala
Cala.

O verso faz
Junto com a grafia
Curiosa poesia.

Prudência, serenidade (eram)
Amigas, (agora)
Palavras antigas.

FLORES

Riso, mão e flor
Janela, rua e ar
Saudades, mato e mar.

A Margarida, simples
Amada
É a flor mais desenhada.

Perfumes
Das flores?
Só nomes.

TEMPOS II

De jardas em jardas
Não sei
Quantos metros já andei.

Esperando, parado
Em vão
A terceira dentição.

Sonhei
Amores
Acordei, dores.

Vitor Bertini

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  • Verdade / Hai-Kai é ficção / por definição;

  • Sexta, dia 12 de novembro, tem mais;

  • Mensagem na garrafa: você que chegou até aqui por curiosidade, gosto ou preguiça, ajude o autor clicando em qualquer botão vermelho perdido por aí.


FATIAS DE LIVRO

O Haiku aparece em geral nos nossos dicionários com a grafia de Hai-Cai por dois motivos básicos: o primeiro, a guerra que os filólogos patrícios resolveram deflagrar à linda letra K, pelo simples fato dela ter aquele ar agressivamente germânico e só andar com passo de ganso. A batalha é, evidentemente, perdida, inclusive firmando-se na imagem, hoje quase mítica, de JK, também artificialmente banido da vida política brasileira.

O segundo motivo do não-uso da grafia Haiku é a homofonia da segunda sílaba com outra palavra da língua portuguesa, designativa de certa parte do corpo de múltipla importância fisiológica. Essa palavra os filólogos só usam a medo. Quando a colocam no dicionário fazem sempre questão de acrescentar (chulo). Assim, entre parênteses.

Resolvi - e não entro em detalhes para não alongar esta explicação - usar a grafia (comprometida) Hai-Kai.

O Hai-Kai é um pequeno poema japonês composto de três versos, dois de cinco sílabas e um - o segundo - de sete. No original não tem rima, que geralmente lhe é acrescentada nas traduções ocidentais. A época do aparecimento do Hai-Kai é controversa, e sua popularização deu-se no século XVII, sobretudo através da produção de Jinskikiro Matsuo Bashô, simbolista inspirado profundamente em impressões naturais (sobretudo paisagísticas) e adepto do Zen:

A nuvem atenua
O cansaço das pessoas
Olharem a lua.

Apesar de sua forma frágil, quase volátil, dependendo da imagística mais do que qualquer outra poesia, uma implosão, não uma explicitação, o Hai-Kai é, contudo, uma forma fundamentalmente popular e, inúmeras vezes, humorística, no mais metafísico sentido da palavra:

Roubaram a carteira
Do imbecil que olhava
A cerejeira.

Meu interesse pelo Hai-Kai como forma de expressão direta e econômica começou em 1957, quando eu escrevia uma seção de humor (Pif-Paf) na revista O Cruzeiro.

Passei a compor alguns quase semanalmente, usando, porém, apenas os três versos da forma original, não me preocupando com o número de sílabas.

Hai-Kais, Millor Fernandes, Coleção L&PM Pocket vol.27

Preço? Menos do que uma fatia de pizza.

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