Eu Acuso, 12 de setembro de 2025
A ARANHA DE ZOLA
Na última estante da biblioteca improvisada, o livro Germinal, de Émile Zola, tinha uma aranha parada em seu corte dianteiro, entre a capa e a contracapa.
Na página onze, primeiro parágrafo da Primeira Parte, só possível pela partida da aranha, está escrito que “Na planície rasa, sob a noite sem estrelas, de uma escuridão e espessura de tinta, um homem caminhava sozinho pela estrada real que vai de Marchiennes a Montsou, dez quilômetros retos de calçamento cortando os campos de beterraba.”
Um pouco mais adiante, na página catorze, um velho cuspiu preto. Na dezesseis, sorrindo, um personagem apresentou-se como Boa Morte. Tudo em vão: eu, menino de cidade, havia ficado parado, sonhando acordado, ainda na planície rasa, numa noite sem estrelas, lá na página onze, nos campos de beterraba.
Vitor Bertini
A BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DE ÉMILE ZOLA
Émile Zola (1840 — 1902) foi um notável escritor e ativista francês. Filho de pai italiano — Francesco Zola — e mãe francesa, Émile viveu assombrado pela secreta polêmica formada em torno da correta pronúncia de seu sobrenome.
Admirador de Balzac, influenciado pelos estudos de Charles Darwin, pelo cientificismo e pelo positivismo, Zola é considerado o idealizador e principal nome da escola literária conhecida como Naturalista.
Autor de estilo simples e direto, sua principal obra chama-se Os Rougon-Macquart, tem como subtítulo A história natural e social de uma família sob o segundo império e é composta por vinte romances, todos escritos entre 1871 e 1893.
Em 1898, graças ao seu envolvimento no Caso Dreyfus e como retribuição ao seu artigo J’accuse (em que acusava o governo de erro judiciário e antissemitismo) foi condenado a um ano de prisão, indo exilar-se na Inglaterra.
Faleceu em 1902, em Paris, asfixiado com a inalação de monóxido de carbono originário de sua própria lareira, presumidamente defeituosa.
Émile Zola foi preterido nas vinte e quatro vezes em que apresentou candidatura para ingressar na Academia Francesa de Letras. Não sabiam como falar seu sobrenome — deve ser isso.
Vitor Bertini
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Corte dianteiro: a borda do livro oposta à lombada, por onde a gente folheia as páginas.
Positivismo: corrente filosófica e sociológica que surgiu no século XIX, tendo como principal idealizador o pensador francês Auguste Comte. Não é o contrário de negativismo.
Negativismo: palavra não usada explicitamente nesta edição. Termo da psicologia; descreve uma atitude de oposição, pessimismo e resistência a ideias, sugestões ou ações.
Na seção para assinantes: ONDE SE CONTA COMO IAM AS COISAS ATÉ DAR VONTADE DE ACUSAR ALGUÉM (à moda Cervantes).
Agora que as visitas foram embora, deixa eu mostrar o parágrafo da história que começava com sons, quando a vontade de acusar muita gente veio coçar meu ombro:
Na vida normal, Nestor gostava de música; gostava de samba; era amigo do Antonico e na escola não tinha tempo ruim: tocava cuíca, surdo e tamborim.
Ainda volto para ajudar o Nestor —viva Ismael Silva!
Chega por hoje.
PS: por pressa e ansiedade, faleceram as entrelinhas. Pena.







Oportuno!