Cosme Velho, 31 de janeiro de 2025
Fiado e confiado nos exitosos ensinamentos ditados pelo morto quando da redação do prólogo do meu livro A Profeflor, e confrontado pelas modernidades, voltei às falas com suas memórias:
— Brás Cubas, meu amigo, o que a eternidade diz sobre as redes sociais?
— Muito recentes para uma avaliação. Como curva feita por navios, precisamos de tempo e espaço. Entretanto, as últimas notícias que recebi me são elogiosas, e, afinal, pareceram justas.
— E qual o conselho?
— Fácil: cria o teu Emplasto!
Foi só depois, consultando meu WhatsApp que vi a mensagem: “Dizem que existo porque me retuítam. Desconfio. Brás Cubas.”
O emplasto:
O dito prólogo:
AO LEITOR
Elegante seria começar esta apresentação louvando as histórias escritas por Raymond Carver, Chekhov, Babel, ou mesmo as insuspeitas cartas de van Gogh a seu irmão Théo. Entretanto, quis antes o destino que eu acolhesse um conselho e uma prática ditados por um finado: Brás Cubas.
É dele o conselho para que os prólogos sejam curtos ou ditos de um jeito obscuro e truncado. É dele também a prática de buscar argumentos em outros autores; ele cita Stendhal, eu busco suas memórias póstumas.
Na verdade, também recolho do morto o destemor pelas confissões, esta estranha prática favorecida pela distância, pelo tempo, pela intimidade ou pela esperança do perdão: estas histórias sem estilo definido, filhas de um tempo em que ninguém tem tempo, quase todas feitas e espalhadas aos ventos das sextas-feiras foram escritas sem método e sem dono, só com as tintas do espanto. Perdão.
No seus conteúdos, prudente, fugi das tramas conhecidas e das pessoas que pagam impostos; imprudente, não lembrei que a vida tenta, com todas as suas forças, assemelhar-se a uma história bem contada. Este prólogo, por exemplo, começou a ser escrito com um olho nos improváveis conselhos do além, enquanto a outra vista, boba, dançando sobre as águas, foi buscar abrigo em ilhas de confissões, presumidamente reais.
E é assim, caro leitor, de mãos dadas com o imponderável, ouvindo vozes, cadenciando o passo e espremendo os olhos na direção de quem vem lá, que lhe dou as boas-vindas que posso: escrever é bom; ser lido é melhor.
Vitor Bertini
A Profeflor, Vitor Bertini, edição do autor - Esquina do Lombas
Não me abandone, Vitor Bertini, edição do autor - Esquina do Lombas
No sono que não consigo, hoje, a certeza. A certeza que escrevo para negar o que nega a vida, para louvar o espanto e para acolher o duro ofício de construir – e seguir sonhando acordado.
— Sonhando acordado, texto publicado nesta página no dia 13 de outubro de 2023
Na pressa, esqueci o chapéu. Busco na próxima sexta-feira.