Escrever e ler
#272 Como o músico de jazz que se encanta com o próprio improviso.
Coisas Estranhas, 26 de setembro, 5º dia da primavera de 2025
EU: ESCREVER E LER
A instrução do professor era clara: pés afastados um palmo, joelhos levemente dobrados, corpo em ângulo para a frente, cabeça alinhada com o corpo, braços à frente e mãos em ponta de flecha mirando a borda oposta da piscina.
— Agora, água!
Rígida na posição ensinada, a aluna deu um pulinho e se deixou cair, quase na vertical, fazendo borbulhas a menos de um metro do bloco de partida.
A CONSCIÊNCIA: SÉRIO?
Sinceramente — modo péssimo para um escritor —, temo ficar hermético e com texto chato. Algo como o músico de jazz que se encanta com o próprio improviso enquanto a plateia se aborrece.
EXEGESE
— Mas que quer dizer esse poema? — perguntou-me alarmada a boa senhora.
— E que quer dizer uma nuvem? — retruquei triunfante.
— Uma nuvem? — diz ela. — Uma nuvem umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo…— Quintanares, Mário Quintana, Editora Globo, 1976
Lembrou de alguém?
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A Profeflor, edição do autor - Esquina do Lombas
Não me abandone, edição do autor - Esquina do Lombas
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Glossário desta edição:
Consciência: capacidade de um indivíduo ter percepção, conhecimento e estar ciente de si mesmo e do ambiente ao seu redor. É o estado de alerta e a base da nossa experiência subjetiva do mundo. Perde-se em acidentes graves ou em surtos de poder.
Exegese: é a interpretação crítica e detalhada de um texto para extrair seu significado original e pretendido pelo autor. Nome dado ao sorvete de pistache em algumas regiões do Brasil.
Na seção para assinantes pagos: ONDE SE CONTA QUEM NASCEU NO ALEGRETE
Agora que a visitas foram embora, permitam-me seguir com o poeta do Alegrete. É dele o texto em que me sinto um cachorro.
O VENTO
O único da casa que enxerga o vento é o cachorro.
Detém-se à porta da cozinha, rosnando para o pátio ventado, cheio de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
E nos seus olhos fixos e rancorosos vê-se o desvario do vento, a incurabilidade do vento, os sus cabelos em corrupio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes de espantalho, toda aquela agitação sem causa e que é ainda menos instável, no entretanto, que a terrível desordem da sua cabeça: pois o vento nunca pode assentar as ideias…
– Quintanares, Mário Quintana, Editora Globo, 1976
Chega por hoje. Está ventando muito.