Chapéu corneta
#96 Olhei para os céus, marquei o local com um pequeno galho seco, guardei a pena e carreguei o banco.
London, 27 de maio de 2022.
Ontem, quinta-feira, sem ter muito o que fazer, liguei para o Palácio de Buckingham e pedi para falar com a Rainha:
– Mr. Bertini?
– Your Majesty?
– Yes. Occasionally.
– Guess what?
Ela já sabia todas as novidades. Vocês, meus afetos, simples mortais, visitem a página.
Entre goles, queijos e descobertas, boa leitura e bom fim de semana.
CHAPÉU CORNETA
Eu que decidi o lugar em que ficaria o banco de jardim que minha esposa comprou.
No dia da entrega, quando ela me chamou para um café, a surpresa havia sido colocada nos fundos de nossa casa, em uma área de flores e árvores, perto da cozinha. Como sempre, atendi o chamado. Maria estava sentada no banco, sorrindo e segurando duas canecas. Sorri de volta, fui até lá, sentei, agradeci o café, beijei sua testa e calei. Dalí, eu quase não via o céu, nem a rua.
Mudei o lugar do presente no dia em que encontrei, pela manhã, bem cedo, uma pena caída em nosso gramado. Olhei para os céus, marquei o local com um pequeno galho seco, guardei a pena e carreguei o banco.
Maria viu a mudança, sorriu do seu jeito, veio e sentou comigo. Ficou um tempo calada. Depois, apontou com o queixo a janela do quarto de nosso filho e disse que a mudança tinha sido boa. Minha esposa não sabe do pássaro com quem falo.
Eu passo horas sentado no banco. Nosso menino passa horas fechado em seu quarto. Acho que ele desenha.
De ontem para hoje, tive uma noite agitada. Saí da cama cedinho e fui, em vão, encostado no banco, olhar para os céus. Só quando baixei o olhar é que vi o grupo de freiras com seus enormes chapéus corneta de abas brancas balançando como se fossem asas, caminhando em silêncio.
Também foi só quando baixei o olhar que vi nosso filho espiando na janela. Sereno, voltei para a cama.
Vitor Bertini
CARONA?
Tudo ficção, sem reclames;
Em breve, quase tudo por aqui vai virar livro. Sugestões?
Livro já publicado do locutor que vos escreve: Não me abandone - a saga de Bénya Krik, um cão de rua, contada pela família que ele adotou. Já leu?