Solo do Brasil, 4 de outubro de 2024
No dia 21 de outubro de 2022, preocupado, publiquei e distribuí a História da Sexta com alguns textos que reproduzo abaixo. De lá para cá, a coisa só piorou. Muito.
Penso, escrevo. Falo, não calo.
Nos versos de um cantor que virou soldado, a inspiração e o grito rouco de um poeta manco, em um momento tão bruto da vida de todos nós.
– Vitor Bertini, dois anos atrás
As verdades eternas precisam ser repetidas constantemente, porque os erros são pregados continuamente ao redor de nós, e não apenas por indivíduos, mas por multidões.
– Johann Wolfgang von Goethe
Entre preocupações e esperanças, páginas, goles e um beijo, boa leitura, bom voto e bom fim de semana.
Me pediram pra deixar de lado toda a mesura, pra só trazer alegrias e não falar de censura. E mais, prometeram que se eu escrevesse feliz, agradava com certeza. Eu que não posso enganar, misturo tudo o que vivo. Escrevo sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci. Faço versos com clareza, à rima, belo e tristeza. Não separo dor de amor. Deixo claro que a firmeza de meu verso vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a censura e faz do medo riqueza, foi quem me fez escritor.
CREDO
Eu acredito que é difícil matar uma ideia porque ideias são invisíveis, contagiosas e se movem rápido.
Eu acredito que você possa elaborar suas próprias ideias contra ideias que você não gosta. Que você deva ser livre para argumentar, explicar, esclarecer, debater, ofender, insultar, enfurecer, zombar, cantar, dramatizar e negar.
Eu não acredito que queimar, assassinar, explodir pessoas, esmagar suas cabeças com pedras (para deixar sair as más ideias), afogá-las ou até mesmo derrotá-las funcionará para conter as ideias que você não goste. Ideias brotam onde você não espera, como ervas daninhas, e são igualmente difíceis de controlar.
Eu acredito que reprimir ideias, espalha ideias.
Eu acredito que pessoas, livros e jornais são recipientes para ideias, mas que queimar as pessoas que detêm as ideias será tão malsucedido quanto bombardear os arquivos dos jornais. Será tarde demais. É sempre tarde demais. As ideias já estão lá fora, escondidas atrás dos olhos das pessoas, esperando em seus pensamentos. Elas podem ser sussurradas. Na calada da noite, podem ser escritas nas paredes da cidade. Ideias podem ser desenhadas.
Eu acredito que ideias não precisam ser corretas para existir.
Eu acredito que você tem todo o direito de estar convencido que as imagens de deus, profeta ou humano que você reverencia são sagradas e indefiníveis, assim como eu tenho o direito de estar convencido da santidade do meu discurso e da sacralidade do meu direito de zombar, comentar, argumentar e falar contra.
Eu acredito que tenho o direito de pensar e dizer coisas erradas. Acredito que sua solução para isso deveria ser discutir comigo ou me ignorar, e que eu deveria poder usar a mesma solução para as coisas erradas que acredito que você pensa.
Eu acredito que você tem o direito absoluto de pensar coisas que considero ofensivas, estúpidas, absurdas ou perigosas, e que você tem o direito de falar, escrever ou divulgar esses pensamentos, e que eu não tenho o direito de matá-lo, mutilá-lo, feri-lo ou tirar sua liberdade ou propriedade só por quê considero suas ideias ameaçadoras, insultantes ou totalmente repugnantes. Você provavelmente também acha o mesmo de algumas das minhas ideias.
Eu acredito que na batalha entre armas e ideias, as ideias acabarão vencendo. Porque as ideias são invisíveis, ficam andando por aí e, às vezes, podem até ser verdadeiras.
Eppur si muove – contudo, se move.
The View From Cheap Seats – A vista dos assentos baratos, Neil Gaiman, William Morrow - An Imprint of HarperCollins Publishers
Ao brasileiro Geraldo Pedrosa de Araújo Dias - Geraldo Vandré – peço vênia e perdão por ter mexido em verso tão definitivo;
Ao inglês Neil Gaiman, autor do Credo, minha homenagem e agradecimento pelo involuntário empréstimo. A tradução é home-made e o texto diz respeito ao massacre acontecido na redação do jornal francês Charlie Hebdo, em 7 de janeiro de 2015;
Hoje, tudo é opinião; nada é ficção.
Falando em ficção:
Valor: inestimável
Preço: R$ 60,00 + R$ 10,00 (frete)
Como: PIX 44649397000112 (Esquina do Lombas)
Depois: email bertini.vitor@gmail.com ou WhatsApp 11.98962.5037 com o nome para a dedicatória e o endereço para a remessa
Finalmente: muito obrigado!
Cenas de textos incertos:
Ocupado nos haveres de quem escreve e depois quer ser lido, entregando minha alma às tarefas, terminei pouco atento ao ramo dos pecados. Erro grave. O Capiroto não dorme.