Biscoitos de canela
#159 Na casa de uns distribuía conselhos, na de outros, sorrisos. Na chegada da noite, rezava.
Brasil, 11 de agosto de 2023.
Ainda escrevo uma história em que a personagem, dona Generosidade, caminhará, explicitamente, só com suas próprias pernas.
Entre suspeitos silêncios, biscoitos, beijos e queijos, meus humildes votos de boa leitura e bom fim de semana.
BISCOITOS DE CANELA
Amanda, desde sempre, visitava toda a família no dia de Natal. Começava cedo e fazia o roteiro a pé.
Na casa de uns distribuía conselhos, na de outros, sorrisos. Na chegada da noite, rezava. Às vezes cantava. Na última das casas, vestia-se de Papai Noel, distribuía os presentes que estavam sob a árvore e repartia seus famosos biscoitos de canela.
Um dia, sem seus óculos, já vestida de vermelho, entrou em uma casa errada.
Apressada, ignorou a discussão e os gritos que ecoavam na vizinhança, pediu silêncio, saudou quem não chamava-se Ênio, riu quando todos riram, foi à árvore, pediu auxílio na leitura para a suposta Iolanda, começou a chamar em voz alta os nomes nas etiquetas e distribuiu os presentes.
Depois, cantou, convidou todos a rezarem, aceitou um pedaço de torta e repartiu seus biscoitos.
Na saída, já com seus óculos e guiada pelo involuntário anfitrião, despediu-se:
– Espero ter ajudado.
De volta à rota da família, realmente atrasada para a última visita, desculpou-se pelo horário e pela falta dos confeitos de canela:
– Tem gente que precisava mais.
Vitor Bertini
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Lembrou de alguém?
Há quem não leia Chekhov ou Machado de Assis enquanto escreve, por medo de ser influenciado.
Eu leio na esperança que me inspirem.