A ratoeira
#194 Uma pessoa não é estúpida porque não consegue fazer perguntas.
A RATOEIRA
Todos já estavam em suas estações de trabalho quando Mônica chegou. No caminho até a divisória que ostentava uma plaquinha com seu nome ela distribuiu sorrisos, devolveu acenos, murmurou cumprimentos e gerou silêncio. Trazia uma bolsa à tiracolo e um livro na mão que não abanava. Era seu primeiro dia na companhia.
Depois, já sentada, montou seu ambiente de trabalho: uma caneca branca vazia, uma caneca vermelha cheia de lápis apontados, um porta-retratos ainda sem foto e um bloco de notas. Sobre o bloco, servindo de peso, uma réplica metálica de uma pequena ratoeira. Ao lado das canecas depositou sua edição de A Montanha Mágica, Thomas Mann, 475 páginas.
O silêncio no departamento só foi quebrado alguns minutos mais tarde.
– Será que a colega está lendo aquele livro todo, ou é só figuração? – perguntou alto uma voz sem dono.
– Uma pessoa não é estúpida porque não consegue fazer perguntas. Mas, justamente, porque ela não consegue esconder isto quando faz as perguntas – respondeu serena, a única voz feminina presente.
Hoje em dia, muito tempo depois daquele primeiro dia, a estação de trabalho virou gabinete, o porta-retratos exibe uma foto dos gêmeos, a ratoeira continua sobre o bloco de notas e muitos na empresa tem livros sobre a mesa. Nem todos gostam da diretora.
Vitor Bertini
Tudo ficção;
Na tarefa de censor das cartas dos soldados em guerra, Yossarian, o herói do fabuloso Ardil 22, de Joseph Heller, um dia, confinado e entediado em uma enfermaria de campanha, resolveu, como critério, cortar tudo que não fosse preposição. Chegaremos lá;
Eu, particularmente, estou de caso com as vírgulas;
Quase tudo ficção;
Da minha lavra, chega por hoje.
Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas
Que nele sabem voar
O mar é das gaivotas
E de quem sabe navegar.
Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Porque não sabem que o mar
É de quem o sabe amar.– Leila Diniz