A ratoeira
#111 O silêncio no departamento só foi quebrado alguns minutos mais tarde.
Canela, 9 de setembro de 2022.
Com a brevidade que trai a pressa, a expectativa que tenhamos todos um belo fim de semana.
Beijos, queijos e boas leituras.
A RATOEIRA
Todos já estavam em suas estações de trabalho quando Mônica chegou. No caminho até a divisória que ostentava uma plaquinha com seu nome ela distribuiu sorrisos, devolveu acenos, murmurou cumprimentos e gerou silêncio. Trazia uma bolsa à tiracolo e um livro na mão que não abanava. Era seu primeiro dia na companhia.
A seguir, já sentada, montou seu ambiente de trabalho: uma caneca branca vazia, uma caneca vermelha cheia de lápis apontados, um porta-retratos ainda sem foto e um bloco de notas. Sobre o bloco, servindo de peso, uma réplica metálica de uma pequena ratoeira. Ao lado das canecas depositou sua edição de A Montanha Mágica, Thomas Mann, 475 páginas.
O silêncio no departamento só foi quebrado alguns minutos mais tarde.
– Será que ela está lendo aquele livro todo, ou é só figuração? – perguntou alto uma voz sem dono.
– Uma pessoa não é estúpida porque não consegue fazer perguntas. Mas, justamente, porque ela não consegue esconder isso quando faz as perguntas – respondeu Mônica, serena e no mesmo volume.
Hoje em dia, muito tempo depois daquele primeiro dia, o porta-retratos tem uma foto dos gêmeos, a ratoeira continua sobre o bloco de notas e muitos na empresa tem livros sobre a mesa. Nem todos gostam da diretora.
Vitor Bertini
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Tudo ficção;
Mar calmo;
I’ll be back.