A História de Natal
#22 Anteontem, quarta, Arlindo, velho amigo, novo leitor, veio me visitar.
Olá. Hoje é sexta-feira.
Anteontem, quarta, Arlindo, velho amigo, novo leitor, veio me visitar.
Chegou com olhos de quem está sorrindo, trazia uma caixa de sapatos nas mãos e me convidou, ainda que em minha própria casa, para que sentássemos no jardim, ao ar livre. Tinha algo para me mostrar.
Devidamente acomodados e seguros, na sombra e no vento, ele - com o sentido de urgência de quem veste uma máscara, explicou a visita:
– Terça, é meu dia de feira. Compradas frutas e verduras, comido o pastel, a banca de revistas é, sempre, minha sobremesa. Ontem, por puro impulso, comprei, lá na banca, por dez reais, esta caixa cheia de velhos cartões-postais. – E começou a mostrar alguns.
Cada um, e ele os havia ordenado cronologicamente, contava uma pequena história. Todos haviam sido postados para o mesmo endereço, todos eram assinados pelas iniciais Q.F. e todos tinham como destinatário, simplesmente, a palavra “Mãe” - que, pelas leituras, devia estar morta. Todos tinham sido devolvidos: endereço não localizado.
– Agora, veja este – falou Arlindo, alcançando mais um cartão, e concluindo:
– É o último.
Sucinto, o cartão tinha só uma frase: “Mãe, é Natal.”
Como os outros, havia sido devolvido. A diferença é que este tinha, em uma letra miúda, em tinta verde, uma resposta: “Filho amado, Feliz Natal!”
– Bertini, lembrei da tua pergunta se tem história em feriado. Li este cartão e corri pra cá. Não sei, não é feriado, é Natal! Sei lá...
Depois, em silêncio, Arlindo levantou, coçou a cabeça, ajustou a máscara, os olhos sorriram novamente, desejou-me Feliz Natal e foi embora.
Amigos, é Natal - uma história que mudou o mundo.
– Feliz Natal!
Vitor Bertini
Da série, “presentear”: