Vitor Bertini

Vitor Bertini

Share this post

Vitor Bertini
Vitor Bertini
Automóvel brilhoso
A história da sexta

Automóvel brilhoso

#125 Sob olhares desconfiados fez tudo o que sabia.

Vitor Bertini's avatar
Vitor Bertini
Dec 16, 2022
∙ Paid
3

Share this post

Vitor Bertini
Vitor Bertini
Automóvel brilhoso
Share

Noch Unter Zensur, 16 de dezembro de 2022.

AUTOMÓVEL BRILHOSO

Quando Celso decidiu ir embora, não sabia que fugia. Pegou duas mudas de roupa, todo o dinheiro que tinha, dois quilos de café, as coisas do banheiro, uma foto da mãe e a certidão de batismo. Socou tudo em um saco de juta e saiu caminhando.

Caminhou até a estrada de chão batido e pedras e por ela seguiu até a estrada de asfalto. Andou na direção de onde o sol se põe e não olhou para trás.

Aceitou caronas, falou pouco, dormiu em postos de gasolina e bancos de igreja por caridade. Pensou, sonhou, rezou, mostrou a certidão de batismo que trazia e seguiu em frente. Quando chegou em Novo Oeste, não sabia onde tinha chegado.

No fim daquela carona, no restaurante da beira da estrada pediu um copo com água e ganhou um café. Inconformado com o gosto que sentia, perguntou se podia moer seus próprios grãos. Sob olhares desconfiados fez tudo o que sabia. Depois, aceitou um quarto nos fundos e a vaga de auxiliar de cozinha.  

No restaurante, Celso fez carreira. Aprendeu a cozinhar e foi ficando. Na cidade, ele fez cidadania. Aprendeu a ler e um dia, por impulso, orgulho e gosto arrematou a coleção de discos e livros do espólio da dona Tereza, viúva do seu Germano, ex-presidente do Clube Central. Terminou gostando da cidade.

E foi assim, quase cidadão de Novo Oeste, calado e bebendo seu café que Celso conheceu e conviveu com a família Jean, Marlene e Anyuta – marido, esposa e filha –, seus novos empregadores, recém-chegados na cidade. 

Foi também assim, calado e bebendo seu café, mais ou menos um ano depois que Anyuta tinha ido morar na capital, em uma tarde sem vento e sem ninguém por perto, que o cozinheiro viu o automóvel brilhoso estacionar na frente do restaurante, seu motorista descer e, encostado na porta do passageiro, acender um cigarro.

Marlene não demorou a descer. Vestida de azul, trazia uma bolsa grande e uma mala pequena. Parou ao pé da escada e com um sorriso triste abanou para seu cozinheiro. Deixou seu perfume e saudades.

Quando o patrão chegou, Celso, em silêncio, serviu um café. 

– O café estava como sempre?
– Hoje, o cheiro de perfume atrapalhou um pouco.

Depois, sem saber que fugia, Jean saiu para caminhar.

Vitor Bertini

Essa página é mantida por seus leitores. Se você acha que essas Histórias do Bertini valem um café por mês, aqui vai um botão para tornar isso realidade. Obrigado.

Abelardo Barbosa, o Chacrinha – que eu me recuso a explicar quem foi –, tinha um bordão que dizia assim: “ roda, roda, roda e avisa: um minuto pro comercial”.

Lá vai:

ONTEM, DEPOIS DE TUDO O QUE ACONTECEU COM VOCÊ...

Contar histórias é constituinte da condição do ser humano - desde sempre. As histórias, a construção de mitos e os arquétipos de todos os heróis acompanham a própria história da civilização.

Contar histórias com propósitos organizacionais, ou organizational storytelling no jargão corporativo, é uma das mais poderosas ferramentas de comunicação que sua empresa pode lançar mão.

Histórias emocionam, envolvem e criam conexões facilitando e viabilizando o processo de comunicação nas organizações.

Com histórias você aprende, ensina e agrega valor. São as histórias seus diferenciais de marca. São as histórias que atendem ao inconsciente do consumidor – de todos nós – para escolher comprar um relógio de U$ 10.000 e não outro, de U$ 5, que marca, afinal, as mesmas horas.

Mais do que uma “moda gerencial”, as práticas de recolher, construir e contar histórias vem recebendo atenções e estudos no campo da neurociência. Nosso cérebro é viciado em histórias. Além do conhecimento empírico de seus resultados, a ciência oferece explicações para a eficácia de sua utilização. Na verdade, sua empresa está mergulhada em histórias – saber utilizá-las (a favor) é uma decisão a ser tomada. 

Conhecer a arte e a técnica de contar histórias de uma forma geral – ou aplicada a necessidades específicas – é o centro de minhas palestras e atividades corporativas.

O ser humano precisa de histórias - sua empresa também.

Vamos conversar? bertini.palestras@gmail.com

Foto por Carla Zigon
  • Tudo ficção, menos o comercial e o papo sobre o café por mês;

  • Quem participar do financiamento coletivo do livro com essas histórias, ganha uma assinatura anual desse hebdomadário;

  • Para quem não perguntou, eu diria que a área de assinantes é uma espécie de paraíso onde as vírgulas são menos vigiadas e as ideias podem ser só ideias.


Topas um compartilhamento?

Share

This post is for paid subscribers

Already a paid subscriber? Sign in
© 2025 Vitor Bertini
Privacy ∙ Terms ∙ Collection notice
Start writingGet the app
Substack is the home for great culture

Share