Automóvel brilhoso
#125 Sob olhares desconfiados fez tudo o que sabia.
Noch Unter Zensur, 16 de dezembro de 2022.
AUTOMÓVEL BRILHOSO
Quando Celso decidiu ir embora, não sabia que fugia. Pegou duas mudas de roupa, todo o dinheiro que tinha, dois quilos de café, as coisas do banheiro, uma foto da mãe e a certidão de batismo. Socou tudo em um saco de juta e saiu caminhando.
Caminhou até a estrada de chão batido e pedras e por ela seguiu até a estrada de asfalto. Andou na direção de onde o sol se põe e não olhou para trás.
Aceitou caronas, falou pouco, dormiu em postos de gasolina e bancos de igreja por caridade. Pensou, sonhou, rezou, mostrou a certidão de batismo que trazia e seguiu em frente. Quando chegou em Novo Oeste, não sabia onde tinha chegado.
No fim daquela carona, no restaurante da beira da estrada pediu um copo com água e ganhou um café. Inconformado com o gosto que sentia, perguntou se podia moer seus próprios grãos. Sob olhares desconfiados fez tudo o que sabia. Depois, aceitou um quarto nos fundos e a vaga de auxiliar de cozinha.
No restaurante, Celso fez carreira. Aprendeu a cozinhar e foi ficando. Na cidade, ele fez cidadania. Aprendeu a ler e um dia, por impulso, orgulho e gosto arrematou a coleção de discos e livros do espólio da dona Tereza, viúva do seu Germano, ex-presidente do Clube Central. Terminou gostando da cidade.
E foi assim, quase cidadão de Novo Oeste, calado e bebendo seu café que Celso conheceu e conviveu com a família Jean, Marlene e Anyuta – marido, esposa e filha –, seus novos empregadores, recém-chegados na cidade.
Foi também assim, calado e bebendo seu café, mais ou menos um ano depois que Anyuta tinha ido morar na capital, em uma tarde sem vento e sem ninguém por perto, que o cozinheiro viu o automóvel brilhoso estacionar na frente do restaurante, seu motorista descer e, encostado na porta do passageiro, acender um cigarro.
Marlene não demorou a descer. Vestida de azul, trazia uma bolsa grande e uma mala pequena. Parou ao pé da escada e com um sorriso triste abanou para seu cozinheiro. Deixou seu perfume e saudades.
Quando o patrão chegou, Celso, em silêncio, serviu um café.
– O café estava como sempre?
– Hoje, o cheiro de perfume atrapalhou um pouco.
Depois, sem saber que fugia, Jean saiu para caminhar.
Vitor Bertini
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